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Casais que dividem a vida mas não a casa revelam porque não moram juntos
Conhecer-se, trocar mensagens ou número de telefone e sair
em um encontro é como a maioria das histórias de amor começa. O primeiro
contato pode ser combinado, marcado por amigos em comum ou uma feliz
coincidência. A partir daí, grande parte dos relacionamentos parece seguir um
roteiro predeterminado, seja pelas convenções religiosas ou sociais, seja pelo
ideal que vemos em nossos planos, inspirados, claro, pelos grandes romances da
literatura e do cinema.
Depois de compartilhar um momento especial, vem o namoro e o
casamento, que podem ser intercalados pela experiência de morar juntos antes de
oficializar. E no casamento tradicional, mesmo em culturas poligâmicas, marido
e mulher vivem juntos, dividindo um teto. Mas será que um modelo de
relacionamento se encaixa para todos os casais? Além das particularidades
individuais, cada relação que a pessoa vive é diferente. E sendo tão variados,
por que não poderiam também seguir formatos alternativos?
O próprio ato de dividir uma casa sem um casamento civil ou
religioso ainda é alvo de julgamento por parte dos mais conservadores. Mas,
cada vez mais, pessoas de todas as idades, gêneros e orientação sexual buscam
novas formas de vivenciar relacionamentos amorosos.
Amor na BR-020
O professor Pedro Henrique Gomes Xavier, 32 anos, e seu
marido, o enfermeiro Antônio Luís de Andrade da Silva, 27, estão juntos há seis
anos e, destes, moraram na mesma casa por quatro. Pedro e Antônio resolveram
viver juntos logo no início do namoro, mas, por questões profissionais, Antônio
precisou se mudar para uma cidade vizinha. Pedro, por sua vez, não pôde ir, em
função do trabalho.
A BR-020, que liga Planaltina (DF) a Formosa (GO), virou
testemunha do amor do casal. Os primeiros meses foram difíceis e os dois
sofriam com a saudade. Mas, depois do período da adaptação e de uma melhora
surpreendente em alguns dos principais motivos de briga entre eles, o arranjo
começou a fazer sentido.
Pedro conta que o ciúme e a desconfiança costumavam causar
conflitos e, morando em cidades diferentes, eles imaginavam que esses
sentimentos podiam piorar. "Quando vimos que nossa confiança aumentou e
passamos a curtir muito mais cada minuto que tínhamos juntos, percebemos que a
mudança não era tão ruim", lembra.
Antônio, que não era muito fã de quando Pedro queria ficar
sozinho, passou a enxergar as vantagens de contar não só com o próprio espaço
físico, que pode organizar como prefere, mas também o valor de ter momentos
consigo mesmo.
O amor romântico e seus formatos
A forma como enxergamos o amor hoje surgiu no século 12.
Antes disso, os casamentos eram feitos a partir de conveniências sociais e
econômicas e o sentimento surgia com o tempo, ou não.
A questão é que, desde que o amor passou a povoar o nosso
imaginário, o casamento surge como o auge desse sentimento e o início do
felizes para sempre. Mas a vivência da sociedade já provou por A mais B que as
coisas não funcionam dessa forma nem seguem uma fórmula perfeita.
A psicóloga, terapeuta de casais e conselheira do Conselho
Regional de Psicologia Rebeca Potengy explica que, da mesma forma que o ideal
de amor romântico foi construído, outras mudanças vão acontecendo naturalmente
ao longo da história.
E casamentos em casas ou quartos separados fazem parte desse
processo. Eles já aconteciam de outras maneiras e até às avessas. Casais que
não mais se amavam, viviam na mesma casa, mesmo não tendo mais um
relacionamento amoroso, mas havia a pressão social para manter a tradição
familiar.
Hoje, os casais que não desejam mais estar juntos têm mais liberdade nessa escolha e os que se amam, mas não desejam dividir a cozinha, o banheiro ou o quarto, estão conquistando as mesmas prerrogativas
. Rebeca afirma que uma das maiores causas de conflito entre
recém-casados é a dificuldade em se adaptar e transitar no mesmo espaço físico
e subjetivo. "Ao dividir uma casa, dividimos também nosso tempo e nossa
forma de viver, e isso pede paciência."
O diálogo e o poder de aprimorar as trocas relacionais
costumam ser o caminho mais indicado para a solução desses atritos, mas,
algumas vezes, as diferenças são muito profundas e exigiriam grandes concessões
das partes.
Nesses momentos, Rebeca explica que é necessário analisar o
que será mais saudável e proveitoso para cada casal. E a maior aceitação a
diversos tipos de relacionamento permite que as pessoas apaixonadas reconheçam
com tranquilidade que manter casas ou quartos separados pode ser a forma de
viver o amor.
Individualidade necessária
A psicoterapeuta corporal e terapeuta de casais Nartan
Lemos, 52, explica que os humanos têm dois conjuntos de necessidade, um de
estarem juntos, se sentirem pertencentes e conectados aos outros. A vontade de
amar e ser amado, de encontrar o companheirismo em outra pessoa.
Ao mesmo tempo, temos a necessidade da individualidade.
"Precisamos nos lembrar que, antes de ser um casal, somos indivíduos.
Preciso saber quem eu sou e do que eu gosto antes de me aventurar com o
outro", diz a terapeuta.
Nartan acrescenta que a autonomia é uma questão de bem-estar
e saúde. Na convivência saudável consigo mesmo, é possível abrir espaço para a
vivência proveitosa com o outro. Dentro desse contexto, a psicoterapeuta
observa que viver em ambientes separados pode ser uma das maneiras de conservar
a própria singularidade. "Precisamos nutrir nossa individualidade, e cada
pessoa encontra uma maneira diferente de fazer isso. Pode ser com hobbies,
amigos, estudos, trabalho. Ter horários para o lazer e uma rotina de acordo com
seus gostos."
Apesar de não ser necessário estar longe fisicamente para
manter os próprios hábitos, ter um espaço só seu onde possa explorar a si pode
ajudar aqueles que têm um pouco mais de dificuldade.
O que é meu e o que é seu
Para entender a forma como nos relacionamos e os hábitos cotidianos, Nartan ressalta o processo de individualização, definido pelo psiquiatra e psicoterapeuta Carl Gustav Jung. Quando começamos a amadurecer, passamos a entender o que pertence ao nosso pai ou à nossa mãe e o que pertence a nós
Quando entendemos o que herdamos, analisamos o que faz sentido para nós. O que vamos manter e o que não desejamos perpetuar. A partir de então, surge o seu jeito, unindo o que mantemos dos nossos pais ao que criamos por nós mesmos.
Ao nos relacionarmos com outra pessoa, principalmente ao morar junto, misturamos a nossa individualização à do outro e nem sempre isso funciona, apesar do amor e do desejo de manter o relacionamento.
Surgem assim os novos formatos de relação, nos quais é possível manter o romance e o companheirismo sem que questões cotidianos se tornem obstáculos. Morar em casas separadas, namoro e casamento aberto, relações poliamorosas fazem parte dessas descobertas sociais.
"O importante nisso tudo é descobrir o que você quer, o que funciona para aquele casal. O foco aqui é o que os parceiros sentem e o que querem, independentemente do que a sociedade diz que é o correto. Ao se permitir, é mais fácil encontrar a felicidade", completa a terapeuta.
Entre a fazenda e a cidade
Para encontrar esse equilíbrio na vida pessoal, Nartan e o
marido, o agricultor e empresário Luiz Mano Velho, 59, passaram a viver cada um
em sua casa ao longo da semana. O arranjo surgiu como uma maneira de ajustar a
vida separada de cada um ao relacionamento..
Luiz gosta da natureza e seu trabalho exige que passe mais tempo na fazenda. Nartan tem filhos de outro casamento que moram com ela e seu trabalho como terapeuta requer que ela esteja em Brasília.
Juntos há seis anos e vindo de outros relacionamentos, Nartan e Luiz têm três e cinco filhos, respectivamente, e, depois de experimentar as vivências tradicionais em suas relações, encontraram um arranjo que funciona para eles.
Além do aspecto profissional, a saudade deixada pelos dias longe faz com que cada reencontro seja incrível. "A distância alimenta a relação, é o nosso tempero especial. Isso permite que a gente esteja em um estado enamorado, sempre encantados um com o outro", diz Luiz.
Para ele, nem sempre percebemos o valor do outro em nossas vidas no cotidiano. Quando existe a saudade, Luiz acredita ser mais fácil entender o quanto o parceiro nos acrescenta. Nartan acrescenta que o modelo é nutritivo, permitindo que o tempo juntos seja mais prazeroso.
Casados no civil, os dois não perdem a chance de dormir
abraçados. Quando vem a Brasília, Luiz fica na casa de Nartan. Aos fins de
semana, ela aproveita para fugir para a fazenda e curtir o marido e o ar puro.
Um banheiro para chamar de seu
Diferentemente de Nartan e Luiz, o bancário Marcelo Netto,
42 anos, e a comunicóloga Tatiana Coelho, 35, moram na mesma casa e dividem o
mesmo quarto e a cama todos os dias. O casal, no entanto, estabeleceu um limite
quando se trata do banheiro.
Os dois estão juntos há cinco anos e, segundo Marcelo, a
ideia de um banheiro para cada um foi de Tatiana. Tatiana jura que a ideia é
capaz de salvar casamentos. Com bom-humor, ela explica que é muito organizada e
o marido é bagunceiro.
“Sendo no banheiro dele e não no meu, o Marcelo pode espalhar tudo e tomar banho até com a bicicleta que eu nem ligo. Além disso, acho banheiro a coisa mais íntima do mundo e gosto de ter essa privacidade”, completa.
Sobre o quarto, apesar de entender os casais que preferem dormir cada um em sua cama ou até em cada casa, eles acreditam que a ideia não se encaixa na relação dos dois. Para Marcelo, o ato de dormir juntos ajuda na resolução de eventuais conflitos.
Para Tatiana, compartilhar a cama faz parte do pacote. O casal ressalta, porém, que manter a individualidade e respeitar o espaço do outro são imprescindíveis em um casamento de sucesso. “Amamos a companhia um do outro, mas não precisamos fazer absolutamente tudo juntos, os reencontros fazem parte do casamento”, complementa Marcelo.
Respeito, confiança e diálogo são as palavras mágicas para
encontrar o equilíbrio entre a individualidade e o casal. “Não somos um, somos
duas pessoas que juntaram trajetórias, escolhemos estar juntas. A base é a
confiança, conversamos sobre as inseguranças e tentamos que cada um resolva as
suas”, finaliza a comunicóloga.
Fonte:Correio Braziliese
Foto: Divulgação
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