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SEJA BEM-VINDA! SEJA BEM VINDO!

É preciso fazer o luto da vida de antes da epidemia"

 



Quando é que isso vai acabar?". Esta é uma das frases ouvidas com mais frequência desde o início da epidemia de Covid-19, em 2020. Muitos nutriam a esperança de que a crise sanitária seria um episódio de duração limitada. Quase dois anos depois, essa pergunta continua sem resposta. As ondas se sucedem, novas variantes aparecem e o otimismo cedeu ao conformismo. As vacinas se revelaram limitadas no controle das infecções e a máscara se tornou um acessório perene.

Nesse contexto, a chamada “fadiga da pandemia” passou a integrar o cotidiano da população mundial. O termo é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma “angústia desencadeada por uma adversidade que progride ao longo do tempo, gerada por certas emoções, experiências e percepções”.

 

Ela se caracteriza por sintomas como dificuldade de concentração, problemas de sono e o esgotamento físico e mental, gerado pela vigilância constante que exige a situação sanitária e as restrições sociais que ela provoca: home-office, escolas fechadas e outras mudanças que alteraram completamente o modo de vida de boa parte da sociedade.

 

A estimativa é que a fadiga pandêmica afete 60% da população submetida ao isolamento e atinja principalmente pessoas sozinhas, como jovens estudantes que vivem longe da família, por exemplo, ou pessoas idosas. Para a psicóloga francesa Aline Nativel, que conversou com a RFI, a população em geral se adaptou à situação imposta pela pandemia, mas, ao mesmo tempo, há dificuldades em se projetar positivamente no futuro.

“Quanto mais tempo dura a epidemia, maior é o cansaço. A questão é que o ser humano precisa se motivar e se posicionar baseando-se em elementos positivos de sua vida. Em certos momentos, acreditamos que a epidemia tivesse chegando ao fim, mas aí veio uma nova variante, um novo protocolo e novas diretivas", ressalta. "Isso faz com que a gente mergulhe novamente em um mundo desconhecido, apesar de sermos capazes de gerenciar certos parâmetros. Mas, mesmo assim, continua sendo difícil se projetar de maneira positiva a longo prazo, de maneira concreta. Sempre há novos elementos que nos fazem mergulhar em uma forma de angústia”, explica.

 

Como enfrentar essa situação e preservar a saúde mental? Uma das estratégias, diz a psicóloga francesa, é continuar fazendo projetos, mesmo que não seja simples.

 

“Há uma grande adaptação, de forma geral, mas começa a surgir um cansaço psicológico em relação ao caráter interminável da crise. Uma espécie de adaptação em relação ao fato que a vida de antes, infelizmente, não existirá mais da maneira como nós conhecíamos. E uma das forças do ser humano é essa capacidade de adaptação. A vida continua. Não devemos entregar os pontos e precisamos continuar nos adaptando da melhor maneira possível.”

Mundo de incertezas

 

Atualmente, diz Aline Nativel, é necessário aceitar viver em um mundo de incertezas sanitárias, que impactam nosso cotidiano. “É como se tivéssemos que fazer o luto da vida de antes, o que pode ser mais ou menos complicado em função do indivíduo e de sua situação”, declara.

 

Ela lembra, que antes da epidemia, havia um sentimento geral de que o homem dominava, através da ciência, o comportamento da natureza. A emergência do coronavírus mostrou o contrário. Muitas pessoas têm dificuldade em gerenciar essa questão e se habituar à ideia de que é preciso conviver com ameaça do SARS-CoV-2 e com o aparecimento de novas variantes. Nem todas as pessoas possuem também os mesmos recursos internos para enfrentar essa situação, lembra a psicóloga.

 

Para ela, os adolescentes e jovens adultos são os que mais sofrem no contexto atual. As incertezas envolvem principalmente o futuro profissional e a dinâmica social. As crianças, afirma a especialista, se adaptaram rapidamente. Para elas, a epidemia trouxe até mesmo efeitos positivos, explica. “Percebemos que as crianças têm uma grande capacidade de adaptação, o que pode mudar a imagem da psicologia infantil. Elas são muito resilientes e capazes de aceitar as novidades em comparação aos adultos”, observa.

Segundo a psicóloga, a situação epidêmica também pode desenvolver uma forte empatia social nas crianças. “Tomando cuidado comigo mesmo, também recordo que tenho que tomar cuidado com os outros. Então são crianças que tendem a ser mais gentis em relação aos outros”, afirma. Outros efeitos positivos da epidemia, lembra, são a conscientização coletiva da importância da saúde mental e da vida em sociedade. Isso contribuirá, acredita, para que essas crianças desenvolvam mais empatia e estejam mais voltadas, no futuro, para preocupações sociais.

 

Em suas consultas, Aline Nativel observa que muitos de seus pacientes se conscientizaram da importância do próprio bem-estar físico, mas também da saúde dos pais, dos avós e dos amigos, por exemplo, e de que há situações que não podem ser controladas. Já entre os adultos, o estado atual é de ansiedade generalizada, motivada por um estado de alerta permanente. O conselho dela é viver o presente, sem tentar antecipar o futuro. “A crise sanitária deverá nos ajudar a viver um dia após o outro.”

 



Foto: Google

Fonte:Taíssa Stivanin, da RFI









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