Sozinha

 

Hoje iria sozinha a qualquer lugar onde o silêncio fosse meu melhor cobertor e ali quieta em respeito as minhas dúvidas, meus medos e incertezas me deixasse levar pelas lembranças de um passado que insiste em mostrar um presente que as vezes não consigo metabolizar.

Hoje ficaria sozinha com minhas malas abertas, aguardando as etiquetas de destino que não chega, que não define.

Hoje ficaria sozinha, bobamente, meio querendo assumir um pouco de alienação, meio querendo desligar as notícias que chegam, que não constroem nada em mim, apenas mostram um tempo que me consome, que me tira o brilho e segura o riso da menina.

Hoje ficaria sozinha costurando a colcha de retalhos da existência e tentando a cada pedacinho costurar remendar pequenos pedaços coloridos que ficaram pelo caminho.

Hoje ficaria sozinha tendo por companhia minha velha caneca cheia de café coado no coador de pano, pois as modernidades tiram de mim o sabor de doces lembranças e o pensamento livre.

Livre para jogar fora o que já não quero e não encaixa, não entra não embeleza.

Livre para chorar e permitir limpar essa nuvem embaçada cotidiana.

Livre para a saudade. Livre para escolher.

Livre para ser, livre para exercitar minha fé e fortalecer a esperança de encontrar momentos leves e fecundos.

LS.